No dia 18 de abril de 1857, data histórica em que O livro dos espíritos foi colocado à venda em Paris, o Espiritismo foi inaugurado em grande estilo sob os auspícios da Literatura Espírita – criação luminescente do pensamento vivo dos Espíritos Superiores –, verdadeira revivescência do Evangelho de Jesus traduzida em sangue novo para o organismo mental do mundo.
A recém-nascida Literatura Espiritista do século 19, que foi complementada ao longo de onze décadas, não ficou à margem das dificuldades vividas por Allan Kardec na preparação e no lançamento das cinco obras fundamentais da Filosofia Espírita: O livro dos espíritos; O livro dos médiuns; O evangelho segundo o espiritismo; O céu e o inferno; e A Gênese.
É notável observarmos o cuidado dos Espíritos em orientar o Mestre quanto às limitações a que estava submetido. Literalmente, Kardec encontrou-se na dependência de editores e livreiros (católicos) estranhos às minúcias doutrinárias, já que aquela época não era o momento para que a Doutrina dos Espíritos dispusesse de editora e gráfica próprias, que fossem independentes de quaisquer interesses alheios ao ideal espiritista.
Para o Mestre, nenhum ensinamento espírita podia ser distorcido por caprichos, seja por um deslize de revisão literária ou mesmo um descuido de impressão. Tudo precisou ser visto e revisto, já que os muitos detratores do Espiritismo estavam de olho em cada detalhe.
Leitura crítica, discernimento e coerência literária nunca faltaram ao Mestre – o “bom senso encarnado” –, como dirá Camille Flammarion. Tudo que se lê de Kardec está expressamente fundamentado pela lógica e razão nos ensinamentos dos Espíritos. E essas qualidades literárias deverão resplandecer como um carimbo de luz em nossos Livros Espíritas!
A divulgação espírita é tarefa nossa!
Amélie-Gabrielle Boudet, a esposa de Allan Kardec, fez tudo que esteve ao seu alcance, principalmente após o desencarne do marido, para que as obras kardecistas que ela herdou não ficassem distantes da realidade econômica de sua época. Assim, a empreendedora Amélie fundou, entre 1869 e 1873, duas Anônimas Sociedades para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec, com o objetivo de assegurar a justa comercialização e distribuição das obras espiritistas em todo o mundo.
Madame Kardec lutou para que a produção editorial espírita estivesse sempre atualizada e norteada por valores coerentes, onde pessoas de qualquer classe social pudessem adquirir os livros kardecistas a preços módicos, porém, longe de barganhas, apelações comerciais ou mesmo publicidades abusivas.
Naquela época, os Espíritos já advertiam o casal Kardec que a Literatura Espírita que se tornaria autossustentável naturalmente, sem que ninguém precisasse “vendar a alma” para o competitivo mercado editorial capitalista. Embora hoje ainda estejamos longe desse ideal, já compreendemos há tempos que uma boa leitura espírita é capaz de ilmunimar as nossas almas, ao mesmo tempo em que um bom livro espírita é capaz de nos afastar dos erros. Como diz Emmanuel, no livro Doutrina e Vida, psicografia de Chico Xavier: “O livro nobre livra da ignorância, mas o livro espírita livra da ignorância e livra do mal.”
O Livro Espírita de qualidade
Passados mais de 145 anos do lançamento de O livro dos espíritos, os nossos Livros Espíritas contemporâneos transitam pelos incríveis avanços tecnológicos das plataformas multimídias que viabilizaram os suportes virtuais, como é o caso do autêntico livro eletrônico que, indiscutivelmente, veio para ficar.
É fato também que o Livro Espírita da atualidade, seja ele impresso ou na versão digital, se dissemina muito mais rápido que o da época de Kardec. Todavia, segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vivemos “tempos líquidos”, onde “nada é para durar”, sendo que a rapidez desse “leva e traz” nos facilita o acesso à literatura banal – a do fast-food. Então, todo cuidado é pouco..
Inegavelmente nos encontramos incorporados nos aparelhos eletrônicos, como os iPhones, os tablets, os notebooks, e muitos espiritistas estão trocando o livro impresso pelo digital à leitura direta na tela de cristal líquido. Comportamento passageiro? Modismo? Realidade?
Independente do suporte ou do hábito adotado hoje ou no futuro, o importante é o foco na leitura espírita de qualidade. Acreditamos que o leitor simpatizante do gênero literário espiritista deve sempre manter aquele mesmo bom senso de Allan Kardec com suas pesquisas: atenção redobrada e seleção criteriosa ao que se lê.
Literatura Espírita, genuinamente Espírita!
Francisco Cândido Xavier já havia dito que “o livro espírita é sempre um amigo disponível para dialogar conosco, ensinando-nos o melhor caminho para a aquisição da paz e da felicidade que aspiramos a encontrar”. Assim, que a nossa Literatura Espírita (centenária) continue sendo a “amiga disponível para dialogar conosco”; que nos mostre sempre o caminho de sua leitura na Arte, que deve ser o do “belo criando o bom”, já que “o trabalho artístico que trai a natureza nega a si próprio” (André Luiz), longe das enganações editoriais da “literatagem” dos “literateiros” – esses que, infelizmente, se passam por “autores espíritas” na atualidade.
É fato: o futuro da Literatura Espiritista está nas mãos do leitor! Nós, os leitores espíritas! Dessa forma, primemos pela qualidade desse bem cultural divino. E quando refletirmos sobre o valor do LIVRO nos líquidos dias atuais, especialmente como veículo de luz à divulgação dos ensinamentos do Cristo, lembremo-nos do que disse o célebre Espírito Irmão X, pela psicografia de Chico Xavier:
— Os elevados colaboradores do Embaixador Sublime examinaram o assunto, por muitos e muitos anos e, depois de longas marchas e contramarchas, assentaram entre si que o monumento capaz de conservar as lições do Divino Mestre, ao dispor de todas as criaturas e ao alcance de todas as inteligências, era precisamente o LIVRO, o único instrumento apto a preservar os tesouros do espírito, acima dos séculos, na moradia dos homens!..
E é por isso que fundamentalmente ao livro, essa bênção, é que devemos na Terra, até hoje a presença imarcescível do Cristo, orientando o caminho das nações, em perenidade de amor e luz.