A primeira imagem que surge em nossas mentes sobre Allan Kardec, o fundador do Espiritismo, é a do educador francês com aparência sisuda, nos encarando com prudência e muita reserva. Mas não é bem isso o que disseram aqueles que conviveram com o mestre lionês.
Em 1869, o último ano de sua vida, ele preferiu se refugiar em sua casa própria na villa Ségur, em Paris. Todos os domingos, ao lado da esposa Amélie-Gabrielle Boudet, recebia os seus melhores amigos, o casal Delanne, os Flammarion, os Leymarie, os Desliens, entre outros confrades mais íntimos.
Pierre-Gaëtan Leymarie deixou escrito que muitas vezes ele visitava os mais chegados, mesmo nos momentos de cansaço ou tristeza: “Ele se sentava à minha mesa e ria como nunca, encontrando anedotas encantadoras, palavras gaulesas, sempre para nos distrair. Depois, alegremente, retornava à sua cadeira.”
Assim, contrariando os retratos fotográficos que passam a impressão de um Kardec austero, senhor Leymarie afirma ainda que nos mesmos almoços dominicais era muito comum o mestre se desligar das discussões volumosas, inclusive sobre questões controversas da Doutrina Espírita, para alegrar e distrair os amigos – como se não houvesse o amanhã: “Ele encontrava-se feliz como uma criança, simplesmente para proporcionar uma doce alegria aos seus convidados”, arremata Leymarie.
Bom humor sempre – com espontaneidade
Relatos confirmam que Allan Kardec dispunha de muitíssimo bom humor. Por conta de um gênio próprio, refinado, ele conseguia proporcionar bem estar com dignidade, leveza com gentileza, características natas de um espírito simples e bondoso que não apresentou afetação, melindres ou malícia.
Com as nossas vidas contemporâneas cada vez mais corridas e antinaturais, seguimos perdendo a nobre capacidade de exteriorizar bom humor, principalmente às pessoas que amamos. Cada vez mais nossa espontaneidade aproxima-se do sarcasmo (postagens em redes sociais comprovam isso), e nos distanciamos do cômico saudável, aquele que não fere nem magoa, e que são qualidades de nosso estado de espírito.
Bom humor do lado de lá
No dia a dia, como de costume, encontramos gente bem ou mal-humorada. Não é de se estranhar que os desencarnados também preservam suas carrancas ou alegrias de viver. Uma maneira rápida de identificar a condição de um espírito que se manifesta em reuniões mediúnicas seria observarmos a apresentação de seu humor.
Bônus: Saiba como sempre manter a esperança
Desencarnar mal humorado é mais do que comum, é quase que um vício. Espírito portador de carantonha, ou seja, de cara fechada, cara feia, dificilmente quer papo e não deseja receber amigos, atitude oposta ao que Kardec gostava de fazer.
Se o bom humor é mesmo a marca registrada dos Espíritos Superiores que passam pela Terra, por que não vestirmos essa marca do bem para desfilarmos felicidade?
De fato: rir de tudo é desespero
O kardecista Henri Sausse, biógrafo e contemporâneo de Kardec, também deixou um depoimento do bom humor do mestre, dizendo que “erraria quem acreditasse que, em virtude dos seus trabalhos, Allan Kardec devia ser uma personagem sempre fria e austera”. Sausse reafirma que o codificador da Doutrina Espírita conservava-se sempre digno e sóbrio em suas expressões: “Ele gostava de rir com esse belo riso franco, largo e comunicativo, e possuía um talento todo particular em fazer os outros partilharem do seu bom humor.”
Sem a obrigação de sermos humoristas em tempo integral, que possamos entrar na faixa vibracional do otimismo, partilhando positividades no dia a dia. E na sintonia do equilíbrio, vale rever o que diz a estrofe da canção Amor pra Recomeçar:
“Quando você ficar triste, que seja por um dia, e não o ano inteiro. E que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero.”
A bela canção passa-nos a mensagem firme da moderação em nossas ações. Por isso, importante se faz viver a vida de mãos dadas com o irmão do bom humor, o bom senso. Espíritos superiores, como é o caso de Kardec e sua esposa Amélie, destacaram-se no campo da Verdade demonstrando que o azedume e o mau humor nas relações interpessoais não resolve os nossos problemas cotidianos, nem paga as nossas dívidas vencidas ou as que estão para vencer.
Encarar os desafios da vida com respeito e bom ânimo, como muitas vezes fez Allan Kardec diante dos acusadores e perseguidores de plantão, é a maneira mais sensata de vivermos em sintonia fina com nós mesmos.
A vida diária nos solicita sorrisos largos. Não precisamos viver nas estreitezas do desânimo ou do achaque, acabrunhados com o próximo.
Prudência, paz, bom humor são, em tudo, o brando orvalho do amor.